quinta-feira, 12 de abril de 2018

O Nazareno

De uma onda surge a gritar,
os primeiros passos dados,
cambaleando na areia molhada,
na promessa de crescer para se aventurar.

Em sorrisos e conversas cresceu,
de pé descalço como nasceu,
com a fome chata na barriga,
nem por isso a vida perdeu.

Entre donzelas a mais bela escolheu,
entre amores prazer sentiu e sofreu,
unindo-se  por fim,
àquela que uma vida lhe prometeu.

Os tambores bélicos começaram a soar,
de papel e lápis no bolso foi então lutar,
apenas para descobrir, já lá,
que lhe sorriu a sorte em vez do azar.

De volta à pátria,
três vezes fez a magia da vida funcionar,
no meio de copos, pratos, conversas junto ao mar,
num lar ainda por quebrar.

A alma de poeta boémio acabou por vencer,
em busca da solidão feliz deitou tudo a perder,
entre sangue, suor e lágrimas,
uma história só sua não deixou de escrever.

O tempo não parou nunca para o ver,
novos sorrisos acabou ele por conhecer
e sem nunca deixar de se ser fiel,
como a maré partiu e deixou de ser.

Para nunca mais ser visto igual,
para nunca mais ser ouvido igual,
para nunca mais ser sentido igual,
para sempre ser lembrado tal e qual.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Tango

Nasce uma nova aventura.
Uma cruzada pelos teus confins,
batalha de sangue, suor e lágrimas,
em busca do Graal da nossa fusão.

As cores das ruelas vibram no olhar,
os aromas da terra trazem vida,
cada som uma nova sinfonia
e cada textura uma nova perdição.

Perdemo-nos de corpo
numa solidão partilhada
onde o silêncio falava,
onde o tempo não era Deus.

Momento a momento,
paixão a paixão,
cara rosada,
copo na mão.

Num banco sentados,
mentimos os dois,
enganados pelo mistério
do que virá depois.

Partilhamos olhares,
toques nas mãos,
sonhos de beijos profundos
em cima de um colchão.

A magia está no olhar,
na história de cada mente,
a vida é mais romântica
para quem só sente.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Solidão

Tinha saudades tuas.
Senti falta do teu gélido corpo,
Do teu abraço penetrante,
Do teu carinho duro.

Não via a hora de te ter por perto.
Chamei tanta vez por ti.
Quando mais precisei tu não estavas lá.
Agora... sou teu prisioneiro nos meus sonhos.

Todos te conhecem
E mais ainda falam de ti,
Mas ninguém te conhece como eu.
Ninguém te ama como eu.

Não gosto de falar de nós.
Somos duas almas perdidas
Que se encontraram no acaso
E viram felicidade nas suas tristezas.

Não me lembro como te conheci.
Foi há uns anos, penso eu...
Desde aí que nunca mais te perdi,
Fazes parte de um mundo só meu.

A tua frieza fascina-me,
A tua distância magoa-me,
A tua estranheza faz-me amar-te.
Sim, só a ti, Solidão.