quinta-feira, 29 de março de 2018

Água Salobra

Os olhos abrem-se com medo,
a cegueira luminosa desvanece
e provas milenares da força da Terra se mostram diante nós.

Um suspiro profundo chega,
os meus olhos focam no céu a meus pés
e o canto das lindas bestas chega até nós.

Sentados a contemplar falamos.
A conversa flui como um rio invisível,
que acaba por chegar à imensidão do mar.

As águas paradas à nossa frente mentem.
A corrente forte do rio causa-me ânsia,
quero conhecer a bravura da maré!

Eu sonho com ondas...
A cada palavra dita sinto mais o sal,
sinto as lágrimas desse mar, desse tão imenso mar.

O que vai ser de nós?
A memória da nascente eclipsou-se
e o segredo da foz está por desvendar.

Como será chegar ao mar...?
Perder-me-ei de ti?
Ou iremos conhecer o mundo novo?

domingo, 25 de março de 2018

Romantismo niilista

É como estar enfeitiçado...
aquele sorriso largo e pintado,
o olhar profundo e desafiante
que me perfura a alma suavemente.

É rir sem medo do ridículo,
é chorar sem medo de sofrer,
é dançar na cozinha enquanto se faz o lanche,
é partilhar uma música que fala o nosso silêncio.

É isto tudo e muito mais,
Amor é olhar, é pensar, é sonhar...
é sobretudo aquilo que é contigo.
Pelo menos é o que eles dizem.

Eu não sei.
O quão inúteis são estas palavras bonitas?
De que serve este romantismo?
Para quê prometer o mundo
se nem um minuto de silêncio conseguimos oferecer?

Eu olho pela janela e penso em ti.
Eu penso nestas palavras bonitas.
Eu penso no mundo que temos para explorar juntos.
Porém, acabo por me perguntar:
quem sou eu afinal para te poder amar?

terça-feira, 13 de março de 2018

Altifalante

Palavras saem incessantemente,
a boca fala, a mente não consente,
a verdade vem à conversa,
o medo já não interessa.

Um olhar responde sem o ruído do som,
um sorriso natural como um dom,
uma chaga no peito de dor escondida,
uma solidão que é compreendida.

Para outros um pilar que promete não cair,
para mim uma força a retribuir,
um sonho de uma felicidade alcançada,
uma tentativa de acompanhar de mão dada.

As luzes da rua assistem à despedida,
o pensamento processa cada palavra vivida.
Agora, na solidão do meu andar,
resta-me nada a não ser sonhar.