sábado, 16 de setembro de 2017

Inspirações

As minhas musas do pensamento vadio,
Sem propósito, sem casa onde habitar,
São todas essas que me fazem sonhar em plena vida, em pleno dia a passar.
Um perfume, um toque,
Um riso, um olhar,
Pequenos acasos que me tornam a inspirar.
Acasos incompletos,
Que não me conseguem satisfazer,
Até que a derradeira musa acabe eu por conhecer.
Uma fusão destes acasos que apadrinham a perfeição,
Não sendo contudo aborrecidos,
Sendo divinamente banais,
Aí está a sua magia,
Na capacidade de trazer a noite após o dia.
Elas não conhecem o meu olhar admirador,
Não sabem que sonho quando um pequeno acaso,
Que deliro quando este se acompanha com um par,
Mas não sabem, principalmente,
O que deverei sentir
Caso todos os acasos se acabem por reunir.
Uma inspiração épica me há de esperar,
Uma que me faça viver,
Em vez de escrever e de sonhar.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Tempo

A nossa conceção da vida e do próprio universo é feita com base em 4 dimensões que formam duas grandezas: o Tempo (que assume uma só dimensão) e o Espaço (composto, na nossa ideia dele, por três dimensões).

Nós assumimos o Espaço como um tecido tridimensional maleável e em constante mudança, um produto do momento inicial (Big Bang) e que se encontra em progressiva expansão. Apesar da capacidade de transformar o espaço de infinitos modos, a singularidade do sentido da expansão espacial tem como consequência a restrição do próprio Tempo. Esta grandeza é-nos apresentada muitas vezes como fluído, em que o passado, o presente e o futuro são apenas instantes que podem ser analisados como que uma célula num laboratório e que, no fundo são parte intrínseca a algo muito maior. Embora esta seja muitas vezes a noção considerada do Tempo, este comporta-se, aos nossos olhos, como um raio de luz que se desloca do ponto A para o ponto B. à semelhança do raio de luz, a viagem é feita de tal modo rapidamente que aparenta ter sido sempre uma ponte estacionária entre os dois extremos.

Contudo, esta perceção só é possível para quem assiste de fora, pois para os que se encontram na ponta do raio de luz, o passado é conhecido e o futuro é um mistério. Esta realidade irrequieta-nos enquanto seres mortais, pois o futuro, sendo imprevisível, incontrolável e desconhecido, torna-se tenebroso. A dolorosa realidade torna o processo de tomada de decisão um momento de ansiedade. A responsabilidade que assumimos ao escolher algo em detrimento de outra coisa é devastadora para muitos. Quando somos crianças, estamos protegidos dessa responsabilidade, visto que quase inconscientemente, os adultos nos protegem da maioria das grandes escolhas. Isso permite às crianças suportar o sonho e a imaginação. Esses processos tornam-se obsoletos com a idade pois a necessidade de escolher nos obriga a tornar as opções o mais realistas possível para serem toleráveis. No fim de contas, a visão do tempo como um caminho a ser constantemente desvendado vai matando a criatividade de cada um. A ideia de uma grandeza temporal tão ou mais maleável que a grandeza espacial é incompreendida pela maior parte das pessoas não por falta de capacidade, mas por falta de imaginação. Isto leva-me a pensar que devemos aprender com as crianças, não perdendo essa capacidade de criar novos caminhos no fluído temporal, não como forma de fugir à realidade, mas sim como forma de a entender melhor.

O Tempo quando é tomado como algo não linear faz surgir novas oportunidades para criar e imaginar, dá-nos liberdade para desenhar o futuro de um modo tão realista como o passado, pois a consciência que temos do passado não passa de uma memória que pode ser mais fraudulenta e ter mais lacunas que um momento inteiramente produto da nossa imaginação.

Por último, esta conceção do Tempo permite contemplá-lo como contemplamos o Espaço, ou seja, usando o irracional. Do mesmo modo que nos permitimos ser absorvidos numa paisagem sem a necessidade de raciocinar acerca de toda a razão pela qual a paisagem é como é, apreciando somente a sua beleza, também a visão do Tempo enquanto fluído dinâmico e não estático nos permite admirar a beleza de um momento enquanto passa de um sonho futuro para um momento no presente e, posteriormente, uma memória do passado, nunca estando, portanto, inatingível, para sempre e sempre presente no manto do Tempo.