segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Ecrâ

Contemplo a minha existência através do ecrã.
A cada pixel ligado me vejo mais desligado;
a cada like, partilha, comentário me sinto menos amado;
e para quê?

Para quê a ânsia do seguir para ser seguido,
quando gosto é do anonimato.
Para quê o ver se viu ou não,
se não esteve lá.

Aí está...
Quem estava lá?
Eu estava.
Mas quem mais?

Os meus olhos tornaram-se lentes sociais,
a minha voz e face tornaram-se cliques e emojis.
A minha identidade tornou-se pública,
presando tanto eu o privado.

Já me sugerem amigos;
amigos de amigos com quem nunca falei,
mas que gostam de coisas que partilhei,
para os meus verdadeiros amigos... que estão online.

E quando eu estou offline?
Eclipso-me do mundo onde estou.
Já não sei a trama da novela do chat de grupo,
Ou os planos para ir sair.

Mas quando é para sair eu vou!
Com os meus irmãos de coração,
com quem só estive se houver um flash ligado
e um telemóvel na mão.

No que isto tudo se tornou...

Para completar o ciclo do verdadeiro frustrado,
aqui estou eu, em total hipocrisia.
A escrever num retângulo iluminado,
na esperança do leitor, do gosto e da partilha.

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