segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Golpe de asa

Numa manhã de outono,
Com o primeiro raio de sol,
Abriu-se, pela primeira vez, um bico maduro para cantar.

Entre ramos, ervas secas,
Papéis e plásticos incolores,
Abriu-se, pela primeira vez, um par de asas para voar.

Desprotegido, de tanto protegido,
Caiu e sentiu, pela primeira vez, a textura da terra.

O bico calou de medo,
O saltitar tornou-se espelho do nervo pulsante.

Até que, com um bater de asas desesperado,
Planou.

Saltou mais...
E voou.

Numa tarde de inverno,
Com o enésimo raio de sol,
Largou uma telha e voou.

Ainda hoje não sei se aterrou.

Sem comentários:

Enviar um comentário