quarta-feira, 21 de junho de 2017

Agora é assim

A forma como todos nós nos deixamos enfeitiçar pelos outros é, simultaneamente, hilariante e deprimente. A crença num momento inevitável de contacto com um outro ser humano que vê o mundo de um modo compatível com o nosso ou até a fé em conhecer alguém com quem a vida passa a fazer mais sentido do que a morte é, da sua maneira peculiar, ingénua e extremamente sábia (mesmo que tal seja paradoxal, aliás, principalmente por isso).
O sonho recorrente de uma vida a dois é algo que ocupa as noites de qualquer pessoa, contudo, quando esta realidade se aproxima lembramo-nos de que estar sozinho, independente e livre é que é bom! Aqui está o problema! Nós associamos o compromisso espiritual, emocional e carnal com alguém com uma fusão de dois indivíduos que se tornam um só, deixando de terem direito (e dever!) de serem dois indivíduos. É raro o caso em que ambos os membros de um casal têm noção de que, ocasionalmente, o egoísmo é a maior fonte de altruísmo e amor que existe! Passo a explicar: o egoísmo que nos permite criar e evoluir o nosso próprio ser, que nos permite escrever a nossa própria história é o mesmo egoísmo que nos fornece as ferramentas para ajudar, amar, entreter, acariciar, apoiar, etc. o/a nosso/a parceiro/a. O autoconhecimento proveniente do egoísmo da introspeção e do investimento no «eu» é uma importante fonte de compreensão face aos problemas e às dificuldades que a pessoa que amamos está a ultrapassar ou ultrapassou. Reconhecer que existe parte de nós que é tão profunda e tão abstrata que não pode nem deve ser partilhada também permite reconhecer essa caraterística nos outros.
A ideia do Romantismo de Amor como linguagem própria entre dois seres, linguagem esta que não é falada nem escrita (pois os verdadeiros românticos creem num mundo em que um casal não necessita de comunicar relativamente aos problemas que enfrenta, pois existe uma harmonia de tal modo perfeita no verdadeiro amor que tudo se resolve na eventualidade regida pelo tempo), só prejudica os amantes modernos. Todos nós que hoje em dia amamos, neste mundo de velocidades loucas, de comunicação supérflua constante via redes sociais e de controlo perpétuo da localização de cada um, do culto da desconfiança e da mentira, todos nós que somos vítimas deste mundo que, de certa forma, é cruel para o amor, procuramos, neste lindo sentimento, um refúgio de toda a complexidade da realidade que nos rodeia, acreditando, erradamente, que o amor deve ser simples, constante e pacífico. O Amor é, a meu ver, a construção maior de qualquer vida. Quem escolhe construir um compromisso baseado no Amor é, para mim, alguém corajoso, pois eu vejo o Amor como algo cujos alicerces são confiança, respeito, preocupação e admiração. É uma fusão de sentimentos.
Toda esta ideia é ridícula e hilariante, pois eu estou a racionalizar algo que, na prática, faço por instinto! Porém, prefiro definir as minhas ideias, direcionando os meus instintos, visto que não posso esperar uma donzela em apuros quando não sou nenhum príncipe encantado.

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