segunda-feira, 8 de maio de 2017

Carris

As rodas mecanizadas do comboio embalam as duas caixas de metal para o meu destino e a tua mente para o sonho.
Tu repousas entre rodilhas de casacos, malhas e cachecóis na esperança de uma almofada e respiras fundo.
Estamos os dois sozinhos na carruagem, tirando aquele senhor um pouco a meu lado e um pouco atrás de mim, de cabelo negro carvão e tez encarnada de uma vida de copos vazios. Porém, ele não passa de uma sombra na vinheta da minha visão focada no lugar onde te senta.
Pareces tão pacífica...
Calma improvável neste berço da velocidade, da efemeridade, do culto do ter tudo do ser nada!
A tua beleza orgânica liberta-me desta prisão de metal.
Qual progresso?! Se isto é progresso, eu quero o regresso... a  casa.
Ah! A minha casa... cada vez mais distante, cada vez mais perdida na memória e nos sonhos trazidos pelos tambores dos mecanismos modernos.
Vou convidar-te para um café e uma tarde de conversa. Pode ser que me ensines a chamar a tudo isto de casa.

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